Quem aqui já encarou 70 km de estrada apenas para conseguir uma coisa parecida com que a maioria das pessoas consegue todas as noites apenas com um telefonema? Eu.
Foi mais ou menos essa a dimensão da jornada para conseguir experimentar o que talvez seja a melhor pizza vegan da cidade: a da Francesca Pizzaria.
Essa história de gostar de comida vegan nos acomete com hábitos cada vez mais estranhos. Mas o legal é quando essa estranheza serve mais para nos reconectar com outras pessoas (humanas ou não, veganas ou não) do que afastar. Eu já escrevi anteriormente como o veganismo pode ser um exercício de misantropia, isso porque comer é muitas vezes mais uma prática de socialização do que apenas o saciamento de uma necessidade. E quando você prefere não comer o que a maioria das pessoas adora comer, o isolamento parece ser um caminho natural. Então, acho bacana demais encontrar formas de aliar minhas crenças e ética com as práticas sociais que moldaram meu caráter.
Comer uma pizza num domingo à noite caprichando no catchup (para horror dos paulistas, puristas) é uma dessas pedras fundamentais da minha constituição.
E poxa, agora com uma opção de pizza, uma opção de cachorro quente, um café todinho vegan, etc. talvez todos aqueles encontros de família ou outras situações que você fica se sentindo a verdadeira ovelinha do Minor Threat, sejam bem mais fáceis de se digerir. Ou pelo menos dá pra ficar sem conversar com a desculpa de que está de boca cheia. É uma boa estratégia.
Bem, durante a jornada que motivou esse post (com toques de “em busca do vale encantado“) atrás da tão sonhada pizza vegana, eu pensava não apenas na potencialidade de ressocialização que é voltar a comer pizza, mas também na capacidade mágica do veganismo fazer a gente ver o mundo com outros olhos. Mais especificamente, eu estava impressionado com a minha própria disposição de fazer tanto esforço simplesmente pra não comer uma pizza tradicional. Penso que esse é um poder de negação (que pode ser politicamente muito interessante) bastante forte.
Ao mesmo tempo, essa negação só é possível porque está em dinâmica constante com uma afirmação. E eu nem me refiro à uma espécie de “orgulho vegan” ou algo do tipo (esse tipo de coisa não me agrada muito), mas sim uma coisa mais simples: o veganismo me faz preferir não comer certas coisas porque me faz preferir comer muitas outras. Parece banal, né? Mas não é não.
Aí entra a tal capacidade do veganismo torcer o olhar. Sem você perceber, o mundo inteiro a sua volta está sendo reencantado com isso. Quem já experimentou a felicidade de descobrir um novo biscoito sem ovos, ou um novo sorvete de fruta sem leite sabe o que é isso. Comer uma pizza pode ser a coisa mais banal do mundo pra maioria das pessoas. Não pra mim. Pra mim, é uma fonte de felicidade plena. E nesse mundo em que as exigências são cada vez mais complexas, a insatisfação parece uma constante e a felicidade um projeto impossível, se encantar com uma coisa tão simples quanto comer uma pizza ouvindo um disco punk, é demais.
Mas então, falando da comida da Francesca em si, a pizza vegana (é, tem esse nome!) é uma mistura de tofu, castanha e pesto deliciosa. Você também pode pedir pra fazer outros sabores com tofu temperado, sugiro fortemente a de cogumelos selvagens. O dono da pizzaria, o João, é um cara super gente-fina, entusiasta do veganismo e promove muitas coisas bacanas com a Francesca além dos sabores sem queijo. Eles evitam ao máximo produtos industrializados, utilizam vegetais orgânicos, plantados por eles mesmo e por pequenos agricultores, dão desconto para membros da SVB e até dispensaram o forno a lenha pra evitar a queima de carbono.
Ah, e o melhor eu deixei pro final, é claro. Eles acabaram de abrir uma filial na Vila Planalto. Então nunca mais vou precisar encarar os 70 km por 8 fatias de pizza (o que eu faria de novo com prazer). Só os 1174 km que separam a minha casa da comida crudívora no Rio de Janeiro. Eita disposição.
Francesca Pizzaria:
Lago Sul – 3367-3367
Vila Planalto – 3306-1414
http://www.francesca.com.br/
Pizza!