Programa ideal de um domingo a noite: ver pela metade filme francês comprado na feira do Paraguai e sair de pijama pra rangar alguma coisa. Quem mora em Brasília, comendo ou carne ou não, sabe que os estabelecimentos têm uma espécie de funcionamento-cinderela. Com as dozes badaladas da meia-noite (às vezes até antes) você fica na rua com a barriga roncando. É mais uma das características da nossa cidade-cemitério. Combina legal com as praças vazias.
Existem algumas poucas exceções a essa regra cruel. Que eu me lembre agora, o Sky’s e a Bomba do Guará, em que para nós, pobres veganxs (muito chato essa história de veganismo coitadinho, né?) sobram as deliciosas opções de açaí com batata frita (talvez o maior prato típico da culinária vegana brasiliense) o macarrão no spoleto, e o subway com aquele pão com mato que você precisa pedir pra colocar muita mostarda pra descer legal. Mentira, eu até gosto do subway, só que minha traquéia tem me avisado muito ultimamente que comer lá mais de uma vez por semana não é bacana. Mas esses estabelecimentos ganharão suas próprias resenhas em algum momento apropriado do futuro.
A ideia era ir até o caixa eletrônico e pegar algum dinheiro para poder ir até o delicioso Burger Gourmet do Chef Ramsey. Eles servem um hamburger vegan com direito a batata e buffet salada por 8 lascas até a meia noite. Só não aceitam cartão. Relapso e com falta de memória agudizada pela carência de B12, não percebi que já se tratavam 23h30 da noite e que eu não conseguiria pegar dinheiro. No bloco do lado tem uma temakeria, Jap’s. Lá seria o jantar.
Essa onda de temakeria bateu forte em Brasília nos últimos anos. É legal porque geralmente elas ficam abertas até mais tarde, tem sempre alguma opção vegan e os ambientes costumam ser agradáveis pra se conversar. Alguns são meio boys, outros meio blasé, mas são coisas que você ignora fácil na frente de um pratão de shitake. É o caso do Jap’s.
Lá, eles colocaram umas mesinhas no chão no gramado do comércio. É até legal. Um misto de Leblon com Osaka. Bom pra namorar, mas talvez não no começo de uma madrugada de junho em Brasília. Não adianta querer se esconder do frio e escapar pra dentro, porque não tem lado de dentro. Como achei em um roteiro aí na internerd: “A Jap’s tem arquitetura contemporânea, com ambiente clean”. O que a gente pode traduzir como é tudo branco, chique, aberto e você passa um frio da porra.
Mas vamos à comida. É boa pra caralho. Você pode pedir um um temaki de shitake, coberto com alho-poró frisado que é uma loucura. Vem tudo enroladinho em formato de cone de algas marinhas (algum vegeta nível 6 não vai questionar a exploração das algas? hehe). Vem muito shitake. Shitake que transborda. O filé vegan. Não me lembro bem do gosto do filé, mas aposto que não é tão bom quanto shitake. (Talvez caiba uma discussão ontológica porque é ok comer fungos e não é ok comer insetos, mas isso a gente deixa pra mais tarde). E você pode incrementar o sabor do fungo com muito molho shoyu e teriyaki. Delícia.
Além dessa overdose de shitake, você ainda pode pedir uma sopinha de tofu, missoshiro (acho), ela vem com muita cebolinha e salsa para os pesadelos de alguns paladares sensíveis. Sem contar que ainda tem um sushi de pepino que é legal também. Eu detestava pepino, talvez ainda deteste. Aquele gosto de casca de melancia e de melão, nunca consegui diferenciar bem as três coisas. Mas to aprendendo a saborear o sushi de pepino, tem uma crocância legal. Sem contar no desafio divertido que é comer com os hashis.
O preço é ok. Acho que o temaki custa 8 reais. Uma coisa que incomoda um pouco, é que eles tem uma pegada de praticidade fast-food, então é tudo descartável. O que significa muito plástico e papel desperdiçado. A sopa de tofu é a única que vem numa cumbuca de cerâmica, bem mais agradável.
Leve um agasalho.
Serviço:
Japs, temakeria, 214 norte. Diariamente até às duas da madrugada.